Informações prestadas pelo ex-diretor da Área Internacional da Petrobras dão informações sobre negociações na Petrobras desde o ano 2000 e revelam atuação de senadores e deputados na estatal.
As revelações feitas pelo ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró aos investigadores da Operação Lava-Jato chamam atenção não somente pelo conteúdo, mas pela abrangência. Cerveró ligou seu ventilador e, das suas delações, saíram denúncias que atingem tanto o governo Fernando Henrique Cardoso quanto a gestão Luiz Inácio Lula da Silva e os dois governos de Dilma Rousseff. Pegam ainda nomes como o senador e ex-presidente Fernando Collor (PTB/AL), o ex-líder do governo, atualmente preso, Delcídio do Amaral (PT/MS) e outros políticos e autoridades influentes.
Pelo que delatou Cerveró, vêm de longe os esquemas que envolvem pagamento de propina na Petrobras. E chegam à era FHC. Com relação à gestão de Fernando Henrique, Cerveró afirmou aos investigadores que a negociação entre a Petrobras e a petrolífera Pérez Companc ocorreu após pagamento de propina da ordem de R$ 100 milhões ao próprio governo. A compra dessa empresa ocorreu em 2002. Cerveró não especificou para quem foi encaminhada essa propina, mas admitiu que a informação foi dada pelos diretores da Pérez Companc, ligados ao ex-presidente da Argentina, Carlos Menem.
Essas informações prestadas por Cerveró vão ao encontro de outras fornecidas pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Pedro Barusco, inclusive durante sessões da CPI da Petrobras do ano passado. Barusco afirmou que começou a receber propinas para facilitar contratos junto à Petrobras ainda durante o ano de 1997. O pagamento de propina ocorreu após a contratação, pela Petrobras, de um navio-plataforma com a holandesa SBM Offshore. A partir de 2000, conforme Barusco, o pagamento de propina ocorreu de forma sistemática. Na época, ele recebia um “mensalinho” que variava entre US$ 25 mil e US$ 50 mil.
Lula
Já em relação ao governo Lula, pela primeira vez Cerveró liga diretamente o ex-presidente ao esquema de corrupção na Petrobras. Cerveró, por exemplo, destaca que sua indicação à diretoria financeira da BR Distribuidora foi uma forma de “reconhecimento” por ter facilitado, na época em que era diretor da área internacional da Petrobras, a contratação do grupo Schain pela estatal para a operação do navio sonda Vitória 10.000. A negociação ocorreu em 2007 e envolveu uma transação de US$ 1,6 bilhão.
Cerveró ainda aponta Lula como um dos articuladores do esvaziamento da CPI da Petrobras e como homem responsável por conceder o controle da BR Distribuidora ao ex-presidente e hoje senador Fernando Collor de Mello (PTB/AL).
Cerveró não soube informar por qual motivo Collor passou a controlar a subsidiária da estatal, mas indicou aos investigadores que provavelmente isso teve o objetivo de manter o controle do PTB na Câmara e Senado.
As revelações de Cerveró são corroboradas por algumas revelações feitas por outros delatores, como o operador do PMDB no esquema, o lobista Fernando Soares, o Baiano. Baiano revelou aos investigadores, por exemplo, que Cerveró foi alocado na diretoria financeira da BR Distribuidora após influência do pecuarista José Carlos Bumlai, homem apontado como um dos responsáveis pela mediação do acordo entre o grupo Schain e a Petrobras.
Dilma
As revelações de Cerveró implicam, ainda que indiretamente, a presidente Dilma Rousseff. Em um dos trechos da delação premiada de Cerveró, ele indica que a petista tinha conhecimento de que Collor controlava a BR Distribuidora. Na época, Collor ameaçou tirar Cerveró da BR Distribuidora e destacou que a presidente Dilma sabia que o senador tinha controle de toda a subsidiária da Petrobras.
Cerveró, em um primeiro momento, duvidou da informação prestada pelo senador. Mas, depois, após ser abordado pelo ex-ministro Pedro Paulo Leoni Ramos, tido como um dos operadores de Collor no esquema, ele reconheceu que, de fato, a presidente sabia que o petebista controlava a BR Distribuidora.
Esquema na BR Distribuidora
Em sua delação, o ex-diretor da área internacional da Petrobras detalhou o funcionamento de um mega-esquema para obtenção de propina por meio de contratos da BR Distribuidora. Esse esquema, ressalta Cerveró, foi criado e capitaneado pelos senadores Renan Calheiros (PMDB/AL), presidente do Senado, e Fernando Collor.
Segundo Cerveró, essa articulação ocorreu ainda em 2009, depois que o ex-presidente Lula deu aval para que Collor comandasse as indicações dentro da BR Distribuidora. Os investigadores suspeitam que Collor assumiu o controle da subsidiária da Petrobrás para ajudar o governo a esvaziar a CPI da Petrobras daquele ano.
Na época, a BR Distribuidora tinha como presidente José de Lima Andrade Neto, alçado ao cargo por indicação do PT. E as demais diretorias da BR Distribuidora foram divididas entre o PT, o PTB e o PMDB, destacou Cerveró.
O ex-diretor revelou aos investigadores que Andurte de Barros Duarte Filho foi indicado para a Diretoria de Mercado Consumidor da BR Distribuidora por meio da bancada do PT na Câmara. Depois, ele ficou responsável por repasse de propina à bancada do PT da Casa. O acordo foi fechado com o então líder do governo na Câmara, o ex-deputado Cândido Vacarezza (PT/SP).
Além disso, José Zonis foi indicado como diretor de Operações e Logística da BR Distribuidora e Luís Cláudio Caseira Sanches, como responsável pela direção de Rede de Postos de Serviço. Os dois eram homens de confiança de Collor e, pelas informações prestadas por Ceveró, ficaram responsáveis por arrecadar propina em favor do senador alagoano e do presidente do Senado.
Cerveró ressaltou ainda que recolhia, pessoalmente, propina para Renan Calheiros e que foi diversas vezes cobrado por isso. Uma delas, no próprio gabinete do peemedebista no Senado. O fato ocorreu em 2012. “Renan Calheiros reclamou da falta de repasse de propina”, destacou Cerveró aos investigadores.
Além deles, Cerveró também citou o petista Delcídio do Amaral, preso no ano passado, como um dos articuladores e como um dos beneficiários do esquema na BR Distribuidora. Outros beneficiários, segundo Cerveró, foram os deputados federais Vander Loubet (PT/MS) e José Mentor (PT/SP). Além de Vacarezza, Loubet e Mentor, houve repasses, também segundo Cerveró, para os ex-deputados André Vargas (ex-PT/PR) e Jilmar Tatto (PT/SP).
O deputado José Mentor, por meio de sua assessoria, nega os termos da delação de Cerveró. “Não tenho, como nunca tive, conhecimento de qualquer reunião sobre o assunto, não conheço o senhor Nestor Cerveró, nem tenho ciência de qualquer propina da BR Distribuidora”, disse ele.
Fonte: Fato Online