O DFTrans identificou 280 cartões de vale-transporte com CPFs de pessoas que já morreram que continuam sendo utilizados. A descoberta faz parte da investigação que apura o suposto desvio de R$ 30 milhões do sistema de bilhetagem automática. Segundo a denúncia, o esquema envolve empresas fantasmas, concessionárias do transporte público e a própria autarquia. As irregularidades teriam ocorrido entre 2008 e 2014. O diretor do órgão, Jair Tedeschi, diz que já foram adotadas providências.
“Pelo menos na nota da auditoria, fala em cerca de 280 registros de pessoas que já estavam mortas há dois anos e [os cartões] ainda estavam em uso. Hoje estão todos bloqueados, mas nós tivemos esta situação realmente”, afirmou o gestor. “Há indícios da mesma forma que nós tínhamos empresas que utilizavam vale-transporte com o CNPJ falso.”
Quatro validadores, que fazem a leitura dos documentos, cartões e uma máquina de crédito e débito estão na sede do DFTrans para que técnicos da autarquia ajudem a polícia a desvendar como a fraude ocorria. Os itens foram apreendidos no dia 8, durante uma operação da Delegacia de Repressão a Crimes contra a Administração Pública. Os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão em duas empresas que prestam serviço de transporte rural para o órgão.
Os computadores recolhidos nos escritórios dessas organizações estão sendo periciados no Instituto de Criminalística. A corporação abriu cinco inquéritos para apurar as denúncias.
A apuração começou em maio deste ano e terminou no fim de agosto. O relatório tem 50 páginas e traz uma possível fraude nos cartões de vale-transporte, que são distribuídos pelas empresas para os funcionários que usam coletivos. O esquema envolveria o DFTrans, empresas de ônibus e quatro empresas fantasmas. Uma delas foi criada com o nome e endereço de um departamento da própria autarquia – a Assessoria Jurídica Legislativa.
De acordo com os auditores, as empresas fantasmas fechavam contrato com o DFTrans, mas não pagavam o valor das passagens para o órgão, como é determinado por lei. Ainda assim, a autarquia liberava os créditos para os cartões que deveriam ser usados por funcionários dessas empresas fantasmas.
A investigação apontou que os cartões foram usados milhares de vezes de forma irregular, não sendo usados por passageiros nos ônibus do sistema de transporte público. Quando o crédito dos cartões terminava, o DFTrans repassava o valor equivalente às concessionárias que participavam da fraude. O dinheiro, então, segundo a auditoria, era dividido entre os envolvidos no esquema.
O relatório apontou ainda que os cartões dos usuários eram abastecidos com valores altos e usados várias vezes, acima do limite permitido em lei e em curtos espaços de tempo. Um único documento chegou a fazer mais de mil viagens por dia. Em 2 de março, foram 1.045 transações, no valor de R$ 3.135. Em 26 de março, o cartão foi usado outras 1.041 vezes e gastou R$ 3.123. No dia 12 de agosto, 1.024 vezes, com ônus de R$ 2.355,20.
Ainda de acordo com o relatório, outro cartão foi usado 35 vezes em 88 segundos. Os auditores constataram ainda ausência de relatórios mensais de atividades e de medição para comprovar os serviços prestados.
Fonte: G1