Caracterizada por uma resposta exagerada do sistema imunológico após exposição ou contato a um determinado antígeno, a alergia atinge cerca de 40% da população em todo o mundo, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). As reações podem ser leves, intermediárias, graves e até fatais. O diagnóstico médico torna-se, deste modo, essencial para a realização da prevenção e tratamentos que podem minimizar os sintomas da patologia.
Com o objetivo de conscientizar e informar a sociedade a respeito dos riscos causados pela alergia e a importância da busca de diagnóstico para medidas de prevenção e tratamento, foi instituído pela OMS o Dia da Alergia, celebrado no dia 8 de julho, em âmbito mundial. A data coincide com o período de inverno no Brasil e de estiagem em Goiás, onde o clima tende a ser mais seco, e as alergias respiratórias, consideradas mais comuns, atingem cerca de 25% da população como mais recorrentes.
Rinite e asma
Conforme a alergologista e imunologista Natália Moriya, da Hapvida NotreDame Intermédica, os principais quadros apresentados no período são de rinite e asma. Ela afirma que muitos pacientes não se dão conta de que têm um quadro alérgico e demoram muito para fazer um tratamento adequado, pelo fato de acharem que é gripe ou resfriado, e tratar como se fosse.
Deste modo, destaca a importância do diagnóstico, realizado por meio de testes alérgicos subcutâneos ou via exames de sangue, em prol da qualidade de vida. “A partir do resultado, é possível detectar as causas da alergia e definir uma estratégia de controle dos quadros, evitando a exposição aos alérgenos, ou, se necessária, a realização de tratamento, que pode ser medicamentoso, com sprays nasais e anti-histamínicos para controlar os sintomas, ou de imunoterapia com vacina”.
Com crises frequentes das patologias, em especial após exposição à poeira, com maior incidência durante o clima seco, a farmacêutica Luana Castro destaca como principais sintomas a obstrução nasal, coriza, espirros e coceira no nariz e nos olhos. “Às vezes uma simples roupa de cama que fica guardada há poucos dias, já me faz espirrar. Preciso tomar sempre antialérgicos e fazer uso de soluções nasais, além do umidificador de ambiente, para tentar amenizar”, relata.
Especialista em Alergia e Imunologia Clínica e membro do Departamento Científico de Anafilaxia da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), Renata Bittar salienta a relevância do conhecimento para a prevenção e tratamento de controle dos processos inflamatórios provocados pelas alergias respiratórias, para que organismo consiga lidar melhor até mesmo com as alterações climáticas atuais.
“A gente não consegue controlar as mudanças bruscas de temperatura, mas temos condições de cuidar para que as pessoas fiquem menos vulneráveis a esses processos de adoecimento”, enfatiza, com a afirmativa de que é possível viver bem ao aprender a gerir o tratamento. “A persistência dos sintomas gera uma sensação de fadiga e mal estar que prejudicam a qualidade de vida e reduzem o rendimento nas nossas atividades mais cotidianas”, frisa.
Alergias cutâneas e Anafilaxia
Outra grande preocupação está voltada às alergias cutâneas e ao choque anafilático. As condições podem ser causadas por alergias a alimentos, medicamentos, picadas de inseto ou estar associada, ainda, a outras substâncias. “Quando a gente fala de alergia cutânea a gente abre um leque. Existem as urticárias, desencadeadas na maioria das vezes por alimentos, a dermatite, que pode ser associada à alergia à poeira e ácaro, e a anafilaxia”, pontua Moriya.
“A anafilaxia é a reação alérgica mais grave e tende a acontecer em contato imediato com uma determinada proteína alimentar e pode colocar o paciente em risco”, explica Bittar, que lista oito principais alimentos com potenciais alergênicos causadores da reação. São eles: o leite, o ovo, o trigo, a soja, o amendoim, as castanhas, o peixe e os crustáceos (camarões). “Hoje a nossa grande preocupação é alertar a população para essas condições de sintomas imediatos que podem colocar a vida em risco”, destaca a especialista.
Enquanto a urticária é uma irritação cutânea caracterizada por lesões avermelhadas e levemente inchadas, como vergões, que aparecem na pele e coçam muito, conforme o Ministério da Saúde (MS), a anafilaxia vem acompanhada, ainda, da sensação de desmaio, pulso rápido, dificuldade de respiração, náusea e vômito, dor no estômago, inchaço nos lábios, língua ou garganta, pele pálida, fria e úmida, tontura, confusão mental, perda da consciência e até mesmo parada cardíaca.
Os sintomas podem ter início em segundos ou até uma hora depois da exposição ao agente causador da reação. Deste modo, a avaliação e o tratamento imediato, de forma emergencial, são fundamentais para evitar a morte, como no caso da jornalista Stéfany Fonseca, que descobriu que tinha alergia a camarão após uma reação alérgica grave ao ingerir um alimento que teve contato com o crustáceo.
“Estava em um restaurante com alguns amigos, comi um bolinho que foi frito na mesma gordura do camarão e passei mal. Saí do bar em uma ambulância e fui parar no hospital. A minha saturação e meus sinais vitais caíram e eu fiquei muito ruim. Após ser socorrida, o médico disse que eu tinha tido uma reação alérgica e me orientou a procurar um alergista. Fiz o teste e descobri que sou alérgica não somente ao camarão, mas também à poeira, ao medicamento Buscopan e outros alérgenos específicos nos quais não tenho muito contato”, relatou.
A paciente precisou fazer uso de um coquetel de medicamentos por um tempo e, após o episódio, carrega consigo uma injeção de adrenalina que inibe a reação alérgica, caso esta ocorra em local de difícil acesso hospitalar. “É preciso conscientizar as pessoas a respeito da gravidade das alergias. Muita gente, às vezes, tem uma alergia que não tem consciência, como o caso da menina que cheirou uma pimenta e teve reações que hoje, infelizmente, não são mais reversíveis. Então, é importante alertar as pessoas que desconfiam de alguma alergia a procurarem um médico e evitarem maiores problemas no futuro”, enfatiza a jornalista.
Políticas Públicas
O presidente da Comissão de Saúde no Parlamento goiano, deputado Gustavo Sebba (PSDB), frisa a importância das políticas públicas no investimento da educação sobre alergias voltadas à promoção de campanhas de conscientização e fornecimento de recursos adequados para o diagnóstico e tratamento de pacientes. “Isso pode incluir o treinamento de profissionais de saúde, a disponibilidade de medicamentos e terapias específicas, e a implementação de medidas preventivas em ambientes como escolas e locais de trabalho”, exemplifica.
“É essencial que a população esteja informada sobre as alergias, suas causas e sintomas, para que possam reconhecê-las e buscar tratamento adequado. Além disso, a conscientização ajuda a reduzir o estigma em torno da patologia, promovendo um ambiente mais inclusivo para pessoas que vivem com essa condição”, acrescenta Sebba.
O parlamentar destaca, ainda, a importância do Dia Mundial da Alergia como forma de chamar a atenção para a notoriedade do assunto. “Como presidente da Comissão de Saúde da Alego e médico, acho significativo reconhecer a importância da data, pois é uma oportunidade para educar a população sobre os diferentes tipos de alergias. Além disso, pode ser uma ocasião para incentivar a pesquisa contínua a respeito das reações, a fim de desenvolver novos tratamentos e terapias mais eficazes”..
Atuação Parlamentar
O Parlamento goiano aprovou, na última Legislatura, duas importantes matérias voltadas à temática. De autoria do deputado Bruno Peixoto (UB), a iniciativa, protocolada na Alego sob o nº 2855/18, e sancionada pelo Executivo estadual à Lei nº 20.703, institui em Goiás a Semana Estadual de Conscientização sobre a Alergia Alimentar, realizada de forma anual na terceira semana do mês de maio. A finalidade é promover informação e conhecimento sobre o assunto.
Durante a semana estabelecida, são desenvolvidas pelo poder público estadual, conforme o texto, ações que contribuem para o esclarecimento da população goiana a respeito da alergia alimentar, seus principais sintomas e as formas de tratamento. “Quanto mais informação a população brasileira tiver sobre a alergia alimentar, maior e melhor será o acolhimento de quem já convive com a alergia alimentar, tendo mais condições de evitar a ocorrência de reações adversas pelo contato indesejado com o alimento que proporciona esse gatilho”, destaca o autor da matéria, em sua justificativa.
Já a Lei nº 20.533 partiu de iniciativa do deputado Karlos Cabral (PSB), por meio da propositura de nº 3511/18, que versa sobre a obrigatoriedade dos colégios da rede estadual, da pré-escola ao ensino médio, a fornecerem alimentos alternativos para o estudante que apresenta intolerância ou alergia a algum alimento ou qualquer outra doença que comprovadamente o impeça de ingerir o alimento disponível no cardápio da merenda escolar.
Na justificativa do projeto, Cabral observa que o objetivo é proteger e incluir crianças e adolescentes que sofrem com doenças crônicas, metabólicas, alergias e/ou intolerâncias e que, em decorrência disso, não podem consumir alimentos fornecidos na merenda escolar da rede pública estadual de educação.
“Ainda é comum no estado de Goiás encontrarmos crianças que têm como única ou mais nutritiva refeição diária o lanche oferecido pelos colégios, creches e demais estabelecimentos de ensino público. Quando, por algum motivo, elas não podem consumir o alimento ofertado, o estudante deixa de frequentar o ambiente escolar, ou tem seu rendimento escolar afetado”, destacou o autor da matéria, em sua justificativa.
Já na atual Legislatura, foram apresentadas três proposituras de autoria do deputado Dr. George Morais (PDT), voltados à prevenção e primeiros socorros ao choque anafilático. São eles os projetos de lei nº 1086/23, 1066/23 e 1083/23. A primeira matéria citada busca instituir em Goiás a Semana Estadual de Conscientização e Prevenção do Choque Anafilático, a ser realizada de forma anual na semana que inclui o Dia Mundial da Alergia, celebrado em 8 de julho.
As diretrizes estabelecidas na proposta estão voltadas à educação e difusão da conscientização sobre o choque anafilático; informação à sociedade sobre os sintomas do choque anafilático e a urgência de se buscar tratamento imediato, além dos agentes causadores e a forma de prevenção; e, ainda, estimular o uso de identificação de alerta médico pela pessoa que já tenha sofrido choque anafilático, detalhando as alergias conhecidas para auxiliar a prestação de socorro.
A segunda propositura citada, por sua vez, tem como finalidade assegurar a disponibilização de kit contendo medicamentos de primeiros socorros (caneta de adrenalina, corticoide injetável, anti-histamínico e bala de oxigênio pequena), em todos os blocos e andares de suas dependências, ao paciente com choque anafilático nas dependências da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás.
Com teor semelhante, a proposta seguinte visa assegurar a disponibilização de kit de medicamentos de primeiros socorros ao paciente com choque anafilático em locais estratégicos de unidades das redes pública estadual e privada de saúde. “O choque anafilático é a apresentação mais grave de uma reação alérgica séria que surge, repentina e severamente, após a exposição a alérgenos, mais comumente, alimentos, drogas e veneno de inseto, e pode ser fatal”, pontua George Morais, na justificativa das matérias.
“Seus sintomas são semelhantes aos da asma: pressão arterial baixa, desmaios, confusão, geralmente no contexto de sintomas mais típicos de uma reação alérgica leve, como erupção cutânea com comichão (urticária), inchaço dos lábios ou rosto, dor abdominal ou vômito. Portanto, é necessário perceber os primeiros sintomas e responder rapidamente. A injeção imediata de epinefrina intramuscular (adrenalina) ao primeiro sinal do choque anafilático e chamar uma ambulância é a forma mais eficaz de tratamento”, acrescenta o parlamentar.
Fonte: Alego