Por Thais Oyama
Amigos do clã Bolsonaro sempre disseram que “o Jair” não liga para dinheiro nem luxos. Desde que era deputado, a fama do ex-capitão é de um homem de hábitos espartanos e “mão fechada” a ponto de, nas viagens de campanha, preferir dormir dentro do carro para não ter de pagar hotel.
Quanto aos filhos, costumam ser assim descritos (as palavras são um pouco menos amenas): Eduardo teria, digamos, espírito e cabeça de surfista, mais preocupado em se divertir do que enriquecer; Carlos seria tão ensimesmado, desconfiado e focado em problemas reais e imaginários que não teria espaço mental para almejar riquezas.
Já quanto a Flávio Bolsonaro, a opinião é unânime.
Esse sempre gostou de conforto.
A revelação feita ontem pelo site O Antagonista e confirmada pelo UOL comprova a impressão. O primogênito do presidente adquiriu por 5, 97 milhões de reais uma mansão com 1.100 metros de área construída em um terreno de 2.500 metros quadrados num dos bairros mais nobres do Distrito Federal, o Setor de Mansões Dom Bosco, no Lago Sul.
Como protagonista do escândalo da rachadinha, Flávio foi uma pedra no sapato do pai desde o primeiro dia do seu governo. O senador pelo Republicanos é acusado na Justiça por lavar dinheiro justamente por meio da compra de imóveis (adquiriu 19 propriedades nos últimos 16 anos).
Por tudo isso, militares do governo receberam a notícia da compra da mansão com incredulidade — incredulidade que rapidamente se transformou em revolta e depois numa convicção: o governo tem de ficar “fora disso e o Flávio que se explique”.
Um grupo de assessores presidenciais chegou a defender que Bolsonaro condenasse em público a atitude do filho. Algo parecido com o que fez em janeiro de 2019. Na época, em entrevista dada em Davos, na Suíça, pouco depois do estouro do escândalo da rachadinha, o presidente disse a respeito de seu filho mais velho:
“Se, por acaso, ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar o preço por essas ações que não podemos aceitar”.
O presidente seria capaz de repetir o gesto hoje?
“Duvideodó”, responde um militar do governo. O Bolsonaro de 2019 não existe mais — ou talvez só tenha existido na cabeça de quem acreditou em mitos.
Fonte: Uol.com.br