Amigos e parentes na direção da campanha III

Quanto mais cara a campanha, pior é a ameaça dos familiares.

Essa questão ganha gravidade adicional nas campanhas mais caras, com propaganda pela TV. Nestes casos, a publicidade é o alvo preferencial. O problema já começa com as fotos. As preferências familiares pelas fotos são de natureza estética, enquanto as preferências dos profissionais são de natureza estratégica (imagem desejada). Depois das fotos, surgem problemas com os jingles, com a marca, com o slogan.

Com parentes na campanha, programas de tevê podem ser tornar um problema

As peças são apreciadas isoladamente pela família, enquanto que e estratégia e a publicidade as compuseram tendo em vista um plano global que se desdobra no tempo de forma articulada. O mais sério chega com os programas de TV. Não importa que os programas tenham sido discutidos por dias e semanas, por profissionais especializados e experientes, não interessa que tenham sido aprovadas nos “focus groups” (pesquisa qualitativa). O que importa é que não agradou.

E não agradou por quê? Ora porque o candidato apareceu pouco (pode ser uma decisão estratégica para evitar a sobre-exposição) o que é visto como um erro, um boicote, uma desconfiança; ora porque as imagens estavam muito escuras; ou porque o texto era muito agressivo, ou muito pouco agressivo; ora porque respondeu a uma acusação, ora porque não a respondeu; mas, acima de tudo, porque o programa do adversário estava melhor, no julgamento deles.

Não agradou, portanto, por motivos subjetivos, estéticos, ou ainda por razões basicamente inconseqüentes. Os familiares conduzem diariamente a sua “pesquisa” (?) junto aos amigos, que, por serem amigos, tendem a pensar de forma semelhante, compartilhando opiniões e sentimentos políticos.

O resultado desta “pesquisa” é apresentado ao candidato como se fosse o pensamento do eleitor: “Olha, as pessoas não estão gostando”, “Teu programa está ruim”, “O pessoal acha que se continuar assim não ganhas”…

Não se pode esquecer nunca que uma campanha eleitoral executa um plano estratégico, competentemente elaborado, no qual os fatores emocionais são, por definição, sempre subordinados às considerações de ordem estratégica. A família, incorporada à direção da campanha, age – com a melhor das intenções – no sentido inverso. Ela parte dos sentimentos para a ação política.

O sentimento e a emoção, já foi dito aqui várias vezes, é útil quando está à serviço da estratégia, a ela subordinado. Uma campanha dominada por reações emocionais não tem chance de vencer, e o que é pior, uma campanha que mescla, de maneira arbitrária e casuística, sentimentos e racionalidade estratégica, consegue derrotar o melhor candidato.

O que o candidato não deve fazer é ceder a esta pressão, e permitir-se uma reação emocional, e de improviso. São em momentos como estes que declarações infelizes são feitas, que serão exploradas pelos adversários, não apenas naquela campanha, mas pelo resto da sua carreira política. Não é por outra razão que os adversários fazem provocações e ataques pessoais, principalmente quando descobrem que a campanha entrou em crise. Seu objetivo é desviar o candidato de sua estratégia, colocá-lo numa posição defensiva e desestabilizá-lo pessoalmente.

Essas interferências na campanha são importantes motivos para uma derrota

Ataques pessoais, entretanto exigem respostas imediatas, fortes, categóricas e verbalizadas de forma emocional. O eleitor não perdoa candidato atacado que não responde à altura ao ataque sofrido. Nestes casos, a expressão de sentimentos de indignação e revolta, é não somente legítima como útil, para os objetivos políticos da candidatura.

Trata-se da defesa da imagem, do patrimônio moral, do respeito, valores que não se defendem com argumentos racionais e sim com a autenticidade dos sentimentos. Mesmo nestes casos, entretanto, até mesmo por sua singular importância pessoal e política, impõe-se o planejamento para dosar da maneira certa a forma e a intensidade da resposta.

Como se viu, não há espaço para a família – como regra – no comando da campanha. Desobedecer esta regra é cortejar a derrota. O candidato maduro e prudente, ouvirá seus familiares, mas não se deixará convencer por eles. Se tiver que mudar a estratégia, vai trocá-la por outra, produzida com os mesmos critérios da primeira. Jamais vai permitir a súbita eclosão de sentimentos e emoções – por mais justos que sejam – em meio à sua campanha, a menos que por motivos igualmente estratégicos.

A grande ajuda da família é de natureza afetiva, e na execução de ações de campanha (malas diretas da esposa, porta a porta feito por familiares, acompanhar o candidato nos momentos em que se requer, entrevistas que testemunhem aspectos pessoais positivos, e outras ações análogas).

A responsabilidade final é do candidato. Ninguém, a não ser ele, tem o poder de abrir as portas do comando da campanha para seus familiares. Se o fizer, o fará por conta e risco.

O que ele não deve nunca esquecer é que a vitória sempre será o castigo mais duro imposto aos seus adversários.

Fonte: Política para Políticos

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