Big Data e a pesquisa brasileira

obama vitoriaPassada as eleições no Brasil e nos Estados Unidos, é possível determinar: a pesquisa brasileira precisa mudar. E mudar muito. Não vou me ater à eterna discussão, que aflora a cada dois anos, sobre a correção ética dos institutos, pois parto do princípio de que são empresas limpas. Mas é chegada a hora de aprendermos com o novo modelo norte-americano.

No embate Barack Obama e Mitt Romney, a grande novidade foi o chamado Big Data. Utilizada em silêncio por Obama e sua equipe, essa ferramenta afundou o jornalismo político americano, assim como a oposição republicana. Depois da eleição, é possível afirmar que nunca mais uma campanha presidencial americana será igual.

A campanha de Obama decidiu utilizar a análise de grandes dados de bancos de dados. É disso que se trata o Big Data. É o grande armazenamento de dados, gerando informações em alta velocidade. Em 2008, a equipe vencedora de Barack Obama já havia utilizado análises de dados de forma sistemática. E também foi um exemplo para o resto do mundo.

Mas, na época, todo o foco ficou na então novidade, as redes sociais Facebook e Twitter. Já nas eleições de novembro deste ano, com Mitt Romney equilibrando essa força, partiu-se para uma análise intensa e eficaz de dados captados de maneira abrangente. Não se trata de uma amostragem ou algo com margem de erro. É muito mais do que isso. É, sim, algo preciso.

Toda a captação de dados na campanha de Obama em 2012 foi integrada. Enquanto Romney trabalhava com o tradicional método de pesquisa, sabendo em termos gerais a opinião de seus eleitores, Obama tinha dados fundamentais certeiros. Esse diferencial foi fundamental na campanha e lhe garantiu a permanência na Casa Branca.

Tudo sobre uma pessoa que pode ser medido foi medido. Combinando com análise apurada, o sistema permitiu que a campanha não só encontrasse eleitores, mas também determinasse que tipos de mensagens deveriam ser difundidas para obter a atenção deles.

Um exemplo do uso dos dados: verificou-se que havia em Nova York um público sedento por um tipo de programa noturno peculiar, um possível jantar com celebridades, especialmente a atriz Sara Jessica Parker. Esse grupo existia e, verificou-se, tinha bolso profundo. Aí nasceu um concurso de doação para a campanha. Quem doasse poderia jantar com ela e Obama. Sucesso imediato.

É claro que muito mais foi feito. A campanha democrata de Obama pôde saber qual a mensagem correta para levar aos eleitores de cada região dos estados mais disputados. Todo o dinheiro passou a ser escoado para determinada região, não apenas pelo “achômetro” ou pela pesquisa que “indicava” tal área. Com um banco de dados monumental, foi possível ter certeza de onde investir força e dinheiro.

Com o Big Data, a equipe de Obama identificou o perfil do eleitor indeciso, o que ele precisava ouvir, que argumentos o fariam sair de casa e votar. As pesquisas eram diárias, via internet, com dezenas de milhares de eleitores, podendo-se perceber, precisamente, as mais tênues flutuações. Jamais se conduziu uma campanha eleitoral com tanta informação. Nunca tantas decisões foram tomadas com tanta tranquilidade.

O resultado da eleição americana — 332 votos do colégio eleitoral para Obama, contra 206 do rival — mostra como a imprensa e os políticos no geral estavam enganados. Durante toda a campanha, mostrou-se um placar apertado, inclusive com alguns institutos dando Mitt Romney à frente na intenção de votos. A poucas horas da urna, pesquisas eram divulgadas mostrando, no máximo, uma vitória apertada do presidente. Convenhamos: 61,7% a 38,3% nada tem de aperto. Obama e sua equipe sabiam exatamente o que estavam fazendo. E acertaram em cheio. Eles e alguns poucos “seguidores” do Big Data.

Esse sistema indica o futuro. Não há previsão. Há análise de dados em massa. A captação de dados já está no cotidiano das pessoas, mesmo que não se perceba. Ou o Brasil começa a pensar nesse modelo de precisão, ou viverá eternamente na margem de erro. Não fazemos pesquisas em número suficiente para dar precisão ao Big Data… ainda.

Por GABRIEL ROSSI

Fonte: Gabriel Rossi / Correio Braziliense – 25/12/2012

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