O jogo político, sobretudo a disputa eleitoral, é jogo pesado. Candidatos que não tenham em mente um único objetivo, vencer, estão condenados ao fracasso.
O candidato pouco conhecido, disputando um cargo executivo em cidades/estados com grandes colégios eleitorais, ordinariamente, tem poucas chances de vitória. Por definição o eleitor vota em quem conhece, ou quem pensa conhecer. Assim, este candidato enfrenta um desafio adicional, quando comparado com os demais: antes de arrebanhar votos, precisa fazer-se conhecido do eleitor.
O candidato às vezes é tomado pela convicção de que terá uma avaliação positiva dos eleitores.
Há muito whishfull thinking por trás da decisão do partido ao escolher um candidato pouco conhecido. O fato é minimizado, e supõe-se que, com o andamento da campanha, o problema se resolve. Em raras ocasiões isso acontece. Na grande maioria dos casos, o resultado final é o insucesso eleitoral. A nossa legislação eleitoral prevê um período de tempo muito limitado para a campanha eleitoral aberta, e, menor ainda para a campanha por rádio e TV. Assim, mesmo que tenha sido escolhido com antecedência de meses, em relação ao calendário eleitoral, ele somente poderá fazer campanha abertamente, dentro dos prazos definidos pela lei eleitoral, que demarca um tempo reduzido.
Pessoas pouco conhecidas (do eleitorado) são escolhidas como candidatos, porque são percebidas como possuindo invejáveis qualificações para o cargo. Na realidade, elas são escolhidas por quem as conhece muito bem, sem levar em conta que este conhecimento não é compartilhado pela maioria do eleitorado. As dificuldades eleitorais, então, são contornadas pela convicção/esperança de que os eleitores, assim que o conhecerem, terão dele a mesma avaliação positiva dos que o escolheram.A realidade é bem mais complexa. Mesmo que o candidato se revele excelente na conquista dos votos, simpático, persuasivo, bom orador etc, a campanha sempre será muito curta para que ele possa fazer valer essas qualidades, para o conjunto do eleitorado.
Candidatos pouco conhecidos, somente têm alguma chance em campanhas ricas, conduzidas por profissionais muito bons. Nestes casos, a criatividade da propaganda, a sua difusão maciça entre os eleitores, as qualidades do candidato (no contato pessoal, pela TV e pelo rádio), podem, contra adversários que não são muito fortes ou estão desgastados, produzir uma vitória.
A combinação:
1 – eleitorado grande;
2 – candidato pouco conhecido;
3 – campanhas pobres ou modestas, entretanto, é fatal.
Já em cidades pequenas (eleitorado pequeno), o problema é bem menor. Em cidades pequenas, todos, por definição, são mais ou menos conhecidos. Candidato pouco conhecido, nesses casos, é a pessoa que não faz política. Nesses casos, mesmo campanhas pobres ou modestas podem fazer frente ao desafio do reduzido conhecimento. Trata-se menos de fazer o candidato conhecido, do que de estender seu prestígio de uma outra área da vida social para a área política. Este é o caso, por exemplo, que explica a freqüência com que médicos do interior ingressam, com sucesso, na vida política.
Muito conhecidos como médicos, o trânsito de sua condição profissional para a vida política se faz com facilidade. O fato de que atenderam profissionalmente pessoas que não podiam pagá-los, cria vínculos pessoais muito fortes que, na hora da eleição, se transformam em votos. O mesmo vale para outras profissões, embora nenhuma se aproxime da profissão médica, em termos de potencialidade eleitoral. Candidatos desconhecidos que disputam uma vaga no legislativo, em grandes colégios eleitorais, possuem também maiores chances de sucesso que candidatos ao executivo.
Maiores chances na comparação com candidatos ao executivo, mas bem menores, quando comparados com candidatos ao legislativo em busca de reeleição, ou bastante conhecidos nas respectivas regiões.
Candidato desconhecido deve trabalhar muito para conseguir o reconhecimento do eleitorado
Para os cargos executivos, entretanto, é uma batalha difícil e dura. Qualquer candidato ao executivo precisa sair-se bem em 4 desafios:
Ser conhecido
Ser identificado
Ser comparado
Ser votado.
Para o eleitor subir essa “escada”, que envolverá a destinação de tempo para informar-se e acompanhar a campanha, é necessário antes que ele tenha sua curiosidade sobre o candidato que não conhece (ou conhece só de ouvir falar) instigada.
Por definição, então, é preciso primeiro tornar-se conhecido. Somente aqueles candidatos que eram desconhecidos, e que o eleitor passou a tomar conhecimento, merecerão dele o investimento de tempo necessário para levá-lo ao novo estágio: a identificação do candidato, localizando-o em termos de relações pessoais e políticas, de partido, doutrina ou ideologia, de projetos e propostas, e, por fim, de sua imagem.
Somente candidatos conhecidos e identificados, ingressam no terceiro estágio que é o da comparação entre os concorrentes, para, ao final, estar presente, como uma possibilidade, no momento da decisão de voto.
Assim, na base de tudo está o atributo “ser conhecido”. Numa eleição real, os candidatos conhecidos já entram na campanha na fase da sua respectiva identificação, enquanto os candidatos pouco conhecidos ou desconhecidos, precisam primeiro fazer com que sua campanha os torne conhecidos, para só depois avançarem para os demais estágios do processo de decisão de voto dos eleitores.
O candidato desconhecido, portanto, entra na campanha eleitoral com poucas chances de vitória. Lançar um candidato que é desconhecido implica numa decisão inicial de risco, que sobrecarrega a campanha com uma dificuldade adicional onerosa, com a qual terá que lidar.
Fonte: Política para políticos