A baixíssima popularidade da presidente Dilma Rousseff e os seguidos escândalos envolvendo petistas – incluindo o próprio Lula – tendem a anular o marketing que fizeram dele “o homem do povo”.
Se o ex-presidente Lula é a única chance que os petistas veem de se manterem por mais oito anos no poder, as denúncias que envolvem familiares e amigos íntimos do ex-presidente podem afastá-lo da disputa ao Palácio do Planalto nas próximas eleições. A baixíssima popularidade da presidente Dilma Rousseff e os seguidos escândalos envolvendo petistas – incluindo o próprio Lula – tendem a anular o marketing que fizeram dele “o homem do povo” e toda a agenda positiva que o petista mais popular vem cumprindo País afora.
Filhos, amigos e doadores importantes das campanhas de Lula têm sido acusados de receber vantagens indevidas de esquemas bilionários de corrupção. Também são apontados por tráfico de influência, desvios de verbas públicas e recebimento de propina.
O doleiro Alberto Youssef disse à polícia, em delação premiada, que Lula e Dilma sabiam da existência do esquema de corrupção na Petrobras. O empresário Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, declarou ter doado dinheiro da Petrobras à campanha de Lula em 2006.
Em delação premiada, o lobista Fernando Baiano afirmou que repassou R$ 2 milhões a José Carlos Bumlai, amigo de Lula, que seriam entregues a uma nora do ex-presidente.
Filho do petista, Fábio Luís da Silva, o Lulinha, também foi citado por Baiano, que disse ter pago despesas pessoais dele. Recentemente, a lista foi reforçada por Luís Cláudio da Silva, também filho do ex-presidente, cujos negócios são investigados pela Operação Zelotes da Polícia Federal.
As denúncias nunca estiveram tão perto do petista, que tem percorrido o País em uma agenda que visa as próximas eleições. Candidatíssimo, Lula tem viajado para discutir a conjuntura nacional.
“Criminalização”
Em jantar com a presidente Dilma, na semana passada, Lula fez críticas à Operação Zelotes, que apura pagamento de propina a integrantes do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), e disse que é preciso estar atento ao que chamou de “onda de criminalização”.
O encontro, no Alvorada, ocorreu na mesma semana em que o petista, em conversas com aliados e auxiliares, teria manifestado indignação e responsabilizou a sucessora pela operação de busca e apreensão na empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a Luís Cláudio.
Absorvido pela política tradicional
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) disse lamentar que Lula tenha sido “absorvido pela política brasileira tradicional, clientelista, corporativista e ideológica”. Em entrevista publicada ontem no jornal argentino La Nación, FHC afirma que é “muito penoso ver no que se converteu Lula”.
“Era um líder sindical autêntico, não necessariamente de esquerda, que tinha um compromisso real com os trabalhadores. Mas se foi deixando absorver pela política brasileira tradicional, clientelista, corporativista e ideológica”, afirmou.
FHC disse que, durante o governo de Lula, houve progressos sociais, mas afirma que o legado do ex-presidente está “sendo comprometido por acusações inaceitáveis”. Ele diz que se opôs ao pedido de impeachment de Lula, em 2005, à época do escândalo do Mensalão do PT, “porque não me parecia bom para o País que seu primeiro presidente operário terminasse perdendo o poder”. E diz que, agora, é “muito ruim” para o Brasil que ele tenha perdido tanta credibilidade.
Renúncia
O tucano afirma que Lula é o pai da atual crise política, mas que ele tem habilidade política para “virar a maré” a seu favor. “Já Dilma é mais rígida e a crise está condenando seu governo”. Na entrevista, FHC voltou a defender que a presidente renuncie ao cargo e disse que estaria disposto a ajudá-la a encontrar uma saída da crise, se fosse convidado.
Saiba mais
No Distrito Federal, o diretório regional do PT já começa a discutir a formação de um palanque para Lula em 2018. Segundo o presidente do PT-DF, Roberto Policarpo, nomes como Erika Kokay (deputada federal) Wasny de Roure (distrital), Arlete Sampaio (ex-distrital) e Geraldo Magela (ex-secretário de Habitação) são considerados como prováveis cabeças de chapa para disputar o GDF.
Pesquisa Ibope divulgada pela Veja mostra que 62% dos brasileiros acham que Lula influencia as decisões de Dilma, contra apenas 28% que consideram que ele não tem essa ascendência. No universo total de entrevistados, 53% consideram a influência de Lula negativa, contra apenas 33% que a consideram um fator positivo.