O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) foi condenado pela Justiça do Distrito Federal a pagar uma indenização por danos morais de R$ 40 mil por uma publicação feita em rede social no ano passado. A imagem foi considerada ofensiva pelos desembargadores da 5ª Turma Cível, que atenderam ao pedido da administradora do grupo Revoltados Online, Beatris Kicis, e determinaram a retirada da publicação. Cabe recurso.
O G1 entrou em contato com o gabinete do deputado, que está em viagem ao Uruguai como membro do Parlamento do Mercosul e só retorna no fim desta terça. Em nota, o parlamentar informou que vai recorrer e disse que a decisão contraria entendimentos do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Ainda segundo a nota, o grupo político de Beatriz “se dedica sistematicamente a difamar e caluniar o deputado Jean Wyllys e outros representantes da esquerda e lutadores pelos direitos humanos”. O G1 pediu para falar com o deputado por telefone e conversou com a advogada que o representa na ação, mas não recebeu retorno.
Em julho de 2015, a página oficial de Jean Wyllys no Facebook publicou montagem com uma foto de representantes de movimentos pró-impeachment no gabinete do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com indicadores erguidos. O registro é de maio do mesmo ano, quando os grupos protocolaram um pedido de impedimento de Dilma Rousseff na Câmara.
Sobre a imagem, foi escrito “Levanta a mão quem quer receber uma fatia dos 5 milhões”, em referência aos US$ 5 milhões supostamente recebidos por Cunha como propina em contratos de aluguel de navios-sonda da Petrobras. “E agora? Será que os pretensos guerreiros contra a corrupção repudiarão sua selfie mais famosa?”, diz a publicação.
Até as 16h desta terça-feira (24), a postagem continuava no ar e ultrapassava 20 mil curtidas, 960 comentários e 6,4 mil compartilhamentos. A decisão da Justiça foi publicada na noite de segunda (23) e prevê multa adicional de R$ 500 por dia em que a postagem permanecer visível.
Além de integrante do Revoltados Online, Beatriz era procuradora do Ministério Público Federal no DF na época da postagem – ela está aposentada desde janeiro. Em entrevista ao G1, ela afirmou que a decisão “abre importante precedente” porque estabelece limites para a imunidade parlamentar em casos que envolvem liberdade expressão.
Beatriz diz que já foi hostilizada por outros deputados contrários ao impeachment de Dilma, em reuniões oficiais da Câmara. “Quando eu participei da CPI [dos Crimes Cibernéticos], o Jean me convocou e não foi à sessão, foi para o Facebook me chamar de criminosa. A deputada Alice Portugal [PCdoB-BA] estava lá, me ofendeu lá, mas naquele momento ela tinha imunidade. Por isso, estou processando ele por isso, e não ela.”
Em nota, Jean Wyllys nega que a manifestação aconteça “fora do mandato parlamentar” e diz que a publicação era endereçada especificamente a Cunha. “Se a senhora Kicis estava na foto com ele, a culpa não é do deputado Jean Wyllys”, diz o texto.
Justiça
Em fevereiro, a juíza substituta da 6ª Vara Cível de Brasília Maria Augusta de Albuquerque Melo Diniz rejeitou o pedido de indenização de Beatriz em primeira instância. Para ela, a postagem de Jean Wyllys era endereçada ao “adversário político” Eduardo Cunha e, por isso, protegida pela imunidade do cargo parlamentar.
“A publicação não teve o condão de ofender a reputação da autora, que apenas figurou como parte do cenário da postagem, não sendo sequer o alvo direto das críticas. Até porque, por não ser figura pública, não tendo qualquer poder de influência política, não poderia ser destinatária da suposta verba paga a título de propina”, diz o voto original.
Com o recurso, a sentença foi reformada por unanimidade pelos três desembargadores da 5ª Turma Cível. No voto, o relator Josapha Francisco dos Santos diz que ofensas “dirigidas a
terceiros que não são congressistas e que não estão comprovadamente envolvidos
em esquemas de corrupção” não podem ser protegidas pela imunidade.
Na visão dos magistrados, Beatriz e os outros manifestantes que aparecem na imagem são “[estranhos] à discussão política, não sendo, portanto, opinião proferida com o objetivo de desempenhar livremente o seu ofício – verdadeira finalidade da imunidade material”.
‘Perseguição’
O deputado, por meio de sua assessoria, e a procuradora aposentada afirmaram ao G1 que são vítimas de “perseguição” do outro lado. Segundo ambos, a discórdia ultrapassa o entendimento diferente em relação a o processo de impeachment de Dilma.
Jean Wyllys protocolou uma representação criminal na Polícia Federal por suposta ameaça virtual feita pelos grupos Revoltados Online e Movimento Brasil Livre, e uma notícia-crime no Ministério Público Federal contra “Revoltados” e Beatriz por difamação na internet em uma postagem que associava o deputado à prática de pedofilia.
Beatriz move um segundo processo contra o parlamentar por postagens em redes sociais e costuma discursar contra projetos e ideias do deputado em textos e vídeos divulgados na internet. Segundo ela, o parlamentar promove a “ideologia de gênero” em projetos de lei e discursos apresentados na Câmara, tema que, segundo ela, deve ser combatido.
Fonte: G1