Funcionárias da campanha ligam para usuários do Clube Escola, pedem votos para Serra e dizem que PT vai ‘acabar’ com programas.
A campanha de José Serra (PSDB) na eleição municipal de São Paulo usou o cadastro telefônico de um programa da Prefeitura para realizar uma ação de telemarketing às vésperas do 2.º turno. O tucano é aliado do atual prefeito da cidade, Gilberto Kassab (PSD).
Uma equipe instalada no comitê do PSDB ligou ontem para eleitores beneficiados pelo projeto Clube Escola, da Secretaria Municipal de Esportes, para convencê-los a votar em Serra, e não em Fernando Haddad (PT). Nas ligações, elas afirmavam que os petistas ameaçavam “acabar” com serviços implantados pela Prefeitura nos últimos anos.
Duas funcionárias que faziam os telefonemas às 11h30, quando o Estado esteve no comitê, disseram que a lista continha apenas números “do cadastro do Clube Escola”. O programa oferece atividade esportivas para a população.
Segundo advogados especializados em direito eleitoral, o uso dos recursos configura uso da máquina pública, o que fere a legislação. O inciso III do artigo 73 da lei 9.504 proíbe a cessão de serviços de governos para comitês eleitorais. A legislação, porém, não prevê punições específicas a candidatos ou agentes públicos.
A Secretaria de Esportes afirmou desconhecer o fornecimento de listas do programa para uso eleitoral e informou que vai abrir um procedimento interno para verificar o caso. A coordenação do comitê de Serra disse desconhecer o uso do cadastro e que não autorizou nenhuma ação no formato (mais informações ao lado).
Cinco funcionárias faziam ligações simultaneamente na manhã de ontem no comitê da campanha de Serra, no edifício Joelma, no centro. Cada uma tinha à sua frente uma lista com os nomes e telefones de cerca de 30 famílias atendidas pelo Clube Escola.
Nos telefonemas, as funcionárias liam instruções em uma folha de papel. No primeiro tópico do texto, elas eram orientadas a se apresentar aos eleitores como representantes do “comitê de campanha de José Serra”.
A campanha de telemarketing também tentava reforçar a acusação de que Haddad pretende encerrar parcerias entre a Prefeitura e entidades privadas que administram serviços públicos – as organizações sociais (OS). “O adversário diz que vai acabar com as parcerias da saúde com as OS”, dizia um dos tópicos da cartilha. Em um dos quatro telefonemas testemunhados pelo Estado, uma das moças disse a uma eleitora que o PT “vai acabar com tudo o que nós conquistamos”.
A equipe de Serra intensificou, na última semana, uma campanha que acusa Haddad de defender o fim de parcerias entre o município e entidades privadas, principalmente na saúde. Cabos eleitorais da campanha tucana passaram a entregar panfletos que acusam o PT de querer encerrar contratos com OS nas portas de hospitais e de unidades de Atendimento Médico Ambulatorial (AMA).
Os tucanos afirmam que essa estratégia reduziu a vantagem do petista na liderança das pesquisas de intenção de voto. O Ibope apontou nesta semana que a diferença entre Haddad e Serra caiu de 16 para 13 pontos porcentuais. Na sondagem, o petista venceria o tucano por 49% a 36%.
BRUNO BOGHOSSIAN – O Estado de S.Paulo
Fonte: Estadão