Fernanda Kaingáng destaca resistência e desafios do Museu Nacional dos Povos Indígenas

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Da redação

Museu enfrenta obstáculos para reabertura completa e busca reconhecimento da cultura indígena no Brasil

Após quase oito anos fechado, o Museu Nacional dos Povos Indígenas reabriu seu jardim neste ano, mas ainda enfrenta obstáculos para a reabertura completa. Fernanda Kaingáng, diretora do museu, explica que a reabertura é um ato de resistência, devido à falta de tradição de apoio à cultura no Brasil. O prédio, tombado pelo Iphan, necessita de um plano diretor e uma reforma estimada em R$ 10 milhões.

Além do prédio principal no Rio de Janeiro, o Museu Nacional dos Povos Indígenas conta com outras estruturas, como o Centro Cultural Ikuiapá em Cuiabá e um centro de audiovisual recém-inaugurado em Goiânia. Estas unidades, atualmente fechadas, abrigam acervos etnográficos e servem como espaços para cineastas e educadores indígenas trabalharem a imagem como ferramenta de resistência.

A coleção de cerca de 600 peças sendo repatriadas da França é um dos acervos etnográficos mais relevantes do país. “Com o incêndio no Museu Nacional, talvez tenhamos hoje o acervo etnográfico mais significativo depois do Museu Paraense Emílio Goeldi”, destaca Kaingáng. O acervo inclui obras raras e peças de arqueologia, e a maior parte das coleções são contemporâneas e legalmente adquiridas.

O museu busca se consolidar como um centro de referência na produção de políticas públicas de cultura para povos indígenas. Fernanda Kaingáng enfatiza que a cultura é uma questão transversal que pode chamar a atenção para direitos indígenas e questões como o genocídio contínuo dos povos indígenas. A proposta é que o museu conte com um conselho exclusivamente indígena, representando diferentes biomas do país, para uma gestão participativa.

A repatriação de peças indígenas de museus no exterior é vista como um passo importante para a reparação cultural. “A espiritualidade desses povos precisa ser respeitada. A repatriação é parte de um universo maior que é a reparação cultural. Os museus devem aos povos indígenas essa reparação”, afirma Kaingáng. A diretora destaca a importância de protocolos comunitários que permitam aos povos indígenas decidir sobre a gestão de seu patrimônio cultural.

O Museu Nacional dos Povos Indígenas também se preocupa com questões ambientais e sociais. “Nós temos racismo institucional praticado todos os dias. As pessoas dizem na universidade que o seu saber não é ciência, mas esse mesmo Pajé é pesquisado para servir de base para estudos e produtos que enriquecem o norte global”, critica Kaingáng. Ela ressalta a necessidade de repensar e reformular as bases da sociedade para garantir um futuro sustentável.

A disputa pelo casarão da Aldeia Maracanã, antigo endereço do Museu do Índio, ilustra os desafios enfrentados para o reconhecimento dos povos indígenas. “Removê-los dali é totalmente inaceitável às vésperas da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro”, afirma Kaingáng. Ela defende que o local deve ser transformado em um centro de memória, história e uma universidade pluriétnica, preservando a rica herança cultural dos povos indígenas.

Fonte: Agência Brasil

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