Nesta selva da política, onde raposas, leões e lobos, convivem com a traiçoeira serpente e com as oportunistas hienas, o candidato tímido ou ingênuo é uma presa fácil. Ele é um animal inofensivo, disputando com predadores.
Vencer, por um voto de diferença se for o caso; sofrendo pesados desgastes, se for impossível de evitar; assumindo compromissos que limitam o poder e a liberdade, se não houver outra saída; rompendo com amizades, se for inevitável; assumindo prejuízos; mas de qualquer forma, vencer. Todos os candidatos enfrentam a eleição com essa mesma disposição. Trata-se, então, de uma competição feroz, uma forma civilizada de combate, na qual as pessoas não hesitam em ir aos seus limites éticos para obter a vitória. A vitória é o bálsamo que cura os ferimentos e recompensa as perdas sofridas. Não surpreende, pois, que Maquiavel tenha ido buscar nos animais selvagens o paradigma para os políticos.
A timidez do candidato somada à campanha pobre pode ser fatal
“Obrigado o príncipe, a saber empregar os procedimentos dos animais, deve preferir aqueles que são próprios do leão e da raposa, porque o primeiro não sabe defender-se das armadilhas, e o segundo não pode defender-se dos lobos. É necessário, pois, ser-se raposa para conhecer as armadilhas e leão para assustar aos lobos” (O Príncipe Cap. XVIII)
Nesta selva da política, onde, raposas, leões e lobos, convivem com a traiçoeira serpente e com as oportunistas hienas, o candidato tímido ou ingênuo é uma presa fácil. Ele é um animal inofensivo, disputando com predadores.
Defende seu temperamento com uma cautela que o impede de ousar. Encontra-se naturalmente impedido de ocupar a ofensiva. Reluta em tomar a iniciativa. Revela-se despreparado para a luta e o confronto. Tem, pois, enormes dificuldades em se apresentar como um líder e tende a ser percebido pelos eleitores como indeciso, fraco, e irresoluto.
Na campanha eleitoral, o candidato tímido reduz sua exposição ao eleitorado, evita a participação em debates, tem dificuldades intransponíveis para mobilizar, motivar e entusiasmar os eleitores, para estabelecer com eles um “nexo emocional”, hesita em atacar adversários para evitar confrontos, entre outros comportamentos.
O resultado político dessa condição pessoal é, obviamente, o insucesso eleitoral. Porque então candidatos tímidos, volta e meia são escolhidos, para disputar eleições? Em geral isso se deve a situações de intenso conflito entre pré-candidatos fortes, que ameaçam dividir o partido. Nessas situações, abre-se a possibilidade para a escolha de um “tertius”, isto é, um terceiro candidato, em relação ao qual ninguém possa opor uma objeção e que não seja percebido como ameaça por nenhum dos principais líderes. Este é o espaço que é ocupado então, por uma galeria de personagens não competitivos, dentre os quais se encontram pessoas tímidas que são levados, pelas circunstâncias, a assumir uma candidatura.
Jogo político é disputa pesada e condena tímidos ao fracasso
Há, entretanto, graus de timidez. Desde a timidez patológica que bloqueia a pessoa no contato com desconhecidos e com públicos, até a timidez amena, próxima da discrição, que pode ser superada sem maiores dificuldades pela pessoa. Há candidatos que vencem sua timidez ao longo da campanha, mas pagam um preço alto por esse aprendizado.
De qualquer forma, a política não é uma atividade que premia com o sucesso pessoas tímidas ou ingênuas. O que nos leva ao candidato ingênuo. Este pode ou não ser, também, um tímido. Vamos tratá-lo como se não fosse, porque se, além de ingênuo for tímido também, então suas chances são nulas. O ingênuo na política é um coelho entre raposas.
A política é um território onde habitam a astúcia, a malícia, a dissimulação, a sagacidade. No mundo da política é importante possuir esses atributos para conceber estratégias e praticá-las, assim como se defender das estratégias dos adversários.
É um campo onde a competição é permanente, onde se cultivam ambições e no qual o conflito – ostensivo ou escondido – está sempre presente. Como se vê, ao candidato ingênuo, a maior parte do jogo político passará desapercebida. Sem a astúcia, a malícia e a sagacidade, ele se torna uma presa fácil dos que as possuem.
Ele está sempre na contramão do procedimento correto: acredita em quem não deve; não desconfia de quem devia desconfiar; é sincero com as pessoas erradas; compromete-se além das possibilidades; ouve as pessoas erradas; faz declarações que o prejudicam; em resumo, revela-se aos eleitores como um desastrado que é bem intencionado.
Às vezes o ingênuo logra ser eleito. Mas, como regra, para cargos legislativos, nunca para o executivo, onde a competição se personaliza, e o vencedor só pode ser um. Quando se elege, o faz apesar de ser ingênuo. Os eleitores, ainda que o considerem como tal, nele identificam outras virtudes (como a pureza, sinceridade, boas intenções, honestidade) que compensam sua ingenuidade e justificam votar nele.
Para cargos executivos, entretanto, o candidato ingênuo muito dificilmente alcança a vitória. As razões para isso são de duas ordens: seu comportamento na campanha é autodestrutivo e sua ingenuidade impede que ele se imponha perante o eleitor como um líder. O eleitor poderá reconhecer-lhe as boas intenções e a sinceridade, mas o desqualificará como líder, por sua fragilidade.
Fonte: Política para Políticos