A data reforça a importância do diagnóstico precoce para o combate da doença. Se descoberto e tratado a tempo, as chances de cura do câncer, são de até 80%. Na Alego, tramitam diversas iniciativas voltadas a conscientização da população sobre o tema.
O dia 23 de novembro é marcado pela campanha nacional de conscientização para o combate ao câncer infanto-juvenil. Instituída pela Lei Federal nº 11.650/2008, a data tem como objetivo: estimular ações educativas e preventivas relacionadas ao câncer infantil, promover debates e outros eventos sobre as políticas públicas de atenção integral às crianças com câncer; apoiar as atividades organizadas e desenvolvidas pela sociedade civil em prol das crianças com câncer; difundir os avanços técnico-científicos relacionados ao câncer infantil; e apoiar as crianças com câncer e seus familiares.
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), o câncer infantil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Diferente de adultos, onde os tumores podem ser desencadeados por meio de determinados hábitos, ao longo da vida, as causas do câncer pediátrico são consideradas, na maioria das vezes, desconhecidas.
Segundo o órgão, apenas cerca de 10% dos casos de câncer em crianças e adolescentes se devem a anormalidades genéticas ou hereditárias. O percentual de cura, entretanto, por meio de diagnóstico precoce, seguido de tratamento adequado, corresponde a 80% dos casos.
Com atuação no Hospital Araújo Jorge ,considerado o único Centro de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (CACON) reconhecido pelo Ministério da Saúde, e único habilitado com Serviço de Oncologia Pediátrica em Goiás, a hematologista pediátrica Dra. Vanuza Maria Rosa, explica que os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias ou ligadas aos tecidos de sustentação e sistema nervoso central.
Ela explica que cada caso deve ser tratado de uma forma específica, por um determinado período, seguindo as diretrizes estabelecidas. “Há casos em que necessitam apenas da quimioterapia, outros de cirurgia, alguns devem ser tratados com quimioterapia, radioterapia e cirurgia, outros com radioterapia e cirurgia”, esclarece a profissional.
Conscientização
A conscientização é considerada essencial para o diagnóstico precoce, que amplia a possibilidade de cura. “Para ter a cura, a criança precisa chegar até o tratamento e, para isso, alguém tem que ter suspeitado, levantado o diagnóstico e encaminhado. Todo tratamento que a gente consegue fazer de uma forma precoce é um tempo a menos de sofrimento, de sintomas e uma melhor chance para a criança”, enfatiza Dra. Vanuza.
“A gente vive em uma realidade em que estamos de olho no que fazemos, mas pensando também no papel da educação externa, voltado para que as crianças cheguem até nós, pois, chegando, a gente vai tratar. E é muito bom a gente ver as crianças vivendo, voltando para a escola e seguindo uma vida plena. Se um dia de conscientização ajuda no diagnóstico de uma criança, para mim, já foi super válido. É muito importante que a gente fale do tema e tire o estigma da doença. As pessoas têm medo e o medo, às vezes, paralisa e não deixa buscar ajuda”, salienta a profissional.
O Ministério da Saúde alerta que os sintomas do câncer infantil são, muitas vezes, parecidos com os de doenças comuns entre as crianças. Por isso, consultas frequentes ao pediatra são fundamentais, conforme o órgão, visto que os profissionais podem identificar os primeiros sinais de câncer e encaminhar a criança para investigação diagnóstica e tratamento especializado.
“O acompanhamento regular das crianças é imprescindível. Dentro dos próprios exames de rotina, têm alguns que podem alterar e levantar suspeitas”, frisa Dra. Vanuza, com a ressalva de que a atenção para a mudança de comportamento também é primordial. “Uma criança que em um dia está brincando e no outro não mais, fica prostrada, amarelinha, com febre prolongada, roxos inexplicáveis, sangramento ou perda de peso, devem ser levadas a um profissional, para diagnóstico. São sintomas relacionados a muitas doenças, por isso a importância da avaliação”, pontua.
Um exemplo é relatado por Regiane Soares, mãe do paciente Nicolas Soares, de apenas cinco anos de idade, em tratamento no Hospital Araújo Jorge. A blogueira, que retrata a rotina de tratamento do filho por meio das redes sociais, afirma ter procurado um diagnóstico médico após notar diferença no olhar da criança. “O olhar dele mudou do nada. A gente se preocupou, correu atrás e descobriu o tumor”, disse.
Nicolas foi diagnosticado, há cinco meses, com câncer na cabeça. Finalizou, há dois meses, o tratamento com radioterapia. De acordo com a mãe, houve regresso apresentado nos últimos exames. “O tumor diminuiu bastante. Se Deus quiser, vai dar certo”, enfatizou Regiane, com a ressalva: “Os pais têm que estar sempre atentos aos detalhes das crianças e tomar todos os cuidados possíveis. Por mais que existam as consultas de rotina, todo sinal deve ser trazido ao hospital. Pode parecer uma coisa boba, mas que pode ser muito séria”.
Assistência social
Outro ponto destacado como de extrema importância é o amparo social. Segundo a Dra. Vanuza, o tratamento contra o câncer é realizado com uma equipe múltipla. Muitas crianças necessitam afastar-se das atividades escolares, do convívio social e, algumas vezes, até mesmo de seus familiares, para ser inserida dentro do contexto dos cuidados hospitalares. É onde entram as diversas ações, realizadas por projetos voluntários.
“A assistência oncológica infantil requer um engajamento da sociedade. Não tem como focar só no tratamento da criança. Tem toda uma demanda social. As crianças têm a rotina mudada, pais que muitas vezes deixam de trabalhar para acompanhar, pessoas que moram longe, sai do convívio familiar. Muitas vezes precisamos de recursos para ajudar essas famílias a conseguirem vir ao tratamento. É uma permanência difícil”, explica.
Um exemplo está no caso da Tatiana Fernandes Marques, mãe do paciente Murilo Marques Aprígio, de nove anos de idade. Moradores do município de São Miguel do Araguaia, estão há sete meses sem ir em casa, em período de tratamento contra um câncer no cérebro.
A luta contra a doença já dura, porém, quase quatro anos. Isso porque a criança, que já teve um tumor retirado anteriormente no cerebelo, foi novamente diagnosticada com câncer, em outra região da cabeça. “Na primeira vez, ele fez uma cirurgia onde os médicos disseram que teria apenas 8% de chances de sair vivo, e caso saísse, seria com grandes sequelas. Mas pela honra e glória do senhor, ele saiu e sem nenhuma sequela”, celebrou Tatiana.
“Depois de dois anos, o tumor voltou e já estava do tamanho de uma laranja. Fez novamente uma cirurgia e retirou apenas 50%, porque estava muito duro. Ficou cinco dias em coma, com ventilação mecânica e quase foi a óbito. Depois de 15 dias, houve outra intervenção para retirada do restante. Os médicos sempre me diziam dos grandes riscos, mas, graças a Deus, ele saiu em três horas de uma cirurgia que tinha previsão de oito a nove horas. Foi um sucesso e nem sangue ele perdeu. Deu para tirar tudo e, mais uma vez, saiu sem sequelas”, relatou, com emoção e o coração cheio fé, a mãe de Murilo.
Ela avalia, ainda, o tratamento recebido no Hospital Araújo Jorge, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), como excelente. “Não falta nada para a criança, eles são muito bem assistidos aqui”, frisa. Ao concordar a respeito do cuidado dado aos pacientes, Dra. Vanuza ressalta não existir, atualmente, fila de espera para o tratamento oncológico infantil. “A gente tem uma média de dez novos casos por mês. Mas uma coisa que a gente fala, com muito orgulho, é que a pediatria não tem fila de espera. Sendo encaminhada e regulada, a criança chega até o tratamento na mesma semana”.
Dentro das ações sociais entram, ainda, atividades que buscam dar leveza ao período vivido. “Os projetos sociais chamam para o outro lado do tratamento, que é contextualizar essa criança, que tem um momento lúdico que, para ela, é completamente rico, porque é uma criança que antes brincava, tinha amiguinhos e agora está em um momento de fragilidade, de imunidade. Isso é uma coisa que eles sentem”, conta a hematologista.
Cultura também cura
Dentre os programas sociais voltados aos pacientes oncológicos, destaque para o “Cultura Também Cura”, realizado de forma periódica no Hospital Araújo Jorge. A ação, que consiste em apresentações musicais, contação de histórias, oficinas de teatro, leitura, acompanhamento didático e diversas outras atividades, teve início no ano de 2022, por meio do projeto de extensão da Universidade Federal de Goiás (UFG), por nome “Ensinando para Aprender”, realizado há 12 anos na unidade hospitalar.
“Eram ministrados conteúdos didáticos perdidos durante o período de tratamento para que as crianças não perdessem o ano letivo. A partir de 2022, apresentamos, em parceria com o Conselho de Desenvolvimento Econômico, Sustentável e Estratégico de Goiânia (Codese), um projeto à Secretaria de Cultura, que se transformou no “Cultura Também Cura”, que hoje trabalha atividades no sentido de não só ensinar, mas também deixar mais leve o processo de tratamento quimioterápico que as crianças passam”, explica o professor da Escola de Engenharia Civil e Ambiental da UFG e idealizador da iniciativa, Emiliano Lobo de Godoi.
As ações ocorrem de forma quinzenal, às segundas-feiras pela manhã, com apresentações musicais, e de forma semanal, no período vespertino, com oficinas temáticas. “A gente sente a diferença das crianças no consultório. Após as atividades, elas entram muito mais abertas, tranquilas e dispostas. Eu não consigo medir a diferença que isso faz no tratamento. É muito importante para elas serem assistidas desse outro ponto de vista”, salienta Dra. Vanuza.
CORA
Com o objetivo de ampliar o tratamento do câncer infanto-juvenil em Goiás, o Executivo estadual trabalha, atualmente, na construção do Complexo Oncológico de Referência do Estado de Goiás (CORA). De acordo com o secretário da Saúde de Goiás, Sérgio Vencio, a unidade deverá inaugurar a ala de tratamento de crianças e adolescentes em outubro de 2024.
Segundo Vencio, a unidade conta com investimentos na ordem de R$424,71 milhões do Tesouro Estadual. O novo complexo de saúde do Governo de Goiás terá 148 leitos de internação, centro cirúrgico, farmácia, centro de exames por imagem e de infusão quimioterápica. Nessa primeira etapa, serão 49 leitos para tratamento de câncer infantil, sendo 11 leitos de UTI e 38 leitos clínicos.
O deputado e médico Jamil Calife (PP) afirma que a implantação da unidade “representa um avanço significativo para o Estado, com função crucial na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz do câncer infanto-juvenil”. Em discurso na Alego, Lucas do Vale (MDB) destacou a modernidade e qualidade prevista para o hospital, com a afirmativa de tratar-se de uma nova “referência para o centro-norte do Brasil”. Também durante as sessões plenárias, o deputado Veter Martins (Patriota) salientou que “a construção do Cora vai salvar muitas vidas, alentar muitos corações e trazer esperança” para diversos pacientes.
Presidente do Parlamento goiano, Bruno Peixoto (UB) evidenciou que a unidade de saúde da rede estadual é desenvolvida com padrões semelhantes aos do Hospital de Amor, situado no município de Barretos, em São Paulo. “Quem já teve um familiar ou foi paciente no Hospital do Amor, sabe bem a importância e a referência da unidade de saúde para o País”, enfatizou.
Atuação parlamentar
Na Alego, são realizadas diversas iniciativas voltadas à conscientização para o combate ao câncer. Além disso, tramitam proposituras que têm como intuito promover a ampliação da informação para o diagnóstico precoce e tratamento contra a patologia, como o projeto de lei nº 155/23, de autoria do médico e deputado Dr. George Morais (PDT), apresentado e aprovado na atual Legislatura. A matéria institui, em Goiás, o Dia Estadual de Combate ao Câncer Infantil, a ser celebrado em 13 de fevereiro.
A proposta é incluir na data, sobretudo, ações educativas e preventivas relacionadas ao câncer infantil, promover debates e outros eventos sobre as políticas públicas de atenção integral às crianças com câncer, apoiar as atividades organizadas e desenvolvidas pela sociedade civil em prol das crianças com câncer, difundir os avanços técnicos científicos relacionados ao câncer infantil e apoiar as crianças com câncer e seus familiares.
“A prevenção e o combate começam com a conscientização dos pais e profissionais de saúde sobre os sinais precoces, em exames regulares e atenção a sintomas persistentes”, frisa o deputado – e médico – Jamil Calife, com a afirmativa de que “o poder público auxilia nesse combate ao implementar políticas de saúde pública que facilitem o acesso a exames, tratamentos e apoio psicossocial para pacientes pediátricos e suas famílias”.
Presidente da Comissão de Saúde no Parlamento goiano, o também médico e deputado Gustavo Sebba (PSDB) reitera o seu compromisso, bem como de toda a Casa de Leis, na luta contra o câncer infanto-juvenil. “Estamos empenhados em fortalecer políticas de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz. Vamos trabalhar incansavelmente para assegurar que todas as crianças tenham acesso à assistência necessária. Unidos, podemos superar esse desafio e oferecer um futuro mais saudável às nossas crianças”, destaca o legislador.Agência Assembleia de Notícias