Pandemia detona mais crises de ansiedade – como lidar com essa situação

O que descobrimos
  • No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou uma pesquisa global que colocava o Brasil como o país mais ansioso do mundo.
  • Estimava-se que 18,6 milhões de brasileiros, ou 9,3% da população, sofriam com o problema.
  • Psicólogos não têm dúvidas ao afirmar que o quadro se agravou muito desde a chegada da covid-19 ao país.

Os distúrbios mentais são uma preocupação global em meio à pandemia. Na coletiva de imprensa do dia 15 de maio, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, chamou a atenção para a provável explosão de casos ao longo dos próximos meses.

“O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante”, ressaltou Adhanom. “Isolamento social, medo de contaminação e morte de membros da família são agravados pelo sofrimento decorrente da redução da renda ou, em muitos casos, da perda do emprego”, descreveu.

Tensão política é agravante

Para o diretor-geral da OMS, as necessidades de saúde mental devem ser tratadas como um elemento central da resposta e do processo de recuperação da pandemia, algo que ele classifica como responsabilidade coletiva dos governos e da sociedade civil.

O Brasil, que já tinha níveis altíssimos de ansiedade, apresenta um fator de risco adicional em relação a muitos outros países, observa a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association do Brasil (Isma-BR): a falta de clareza e de harmonia entre as autoridades no enfrentamento da crise.

“Esses conflitos têm contribuído fortemente para a sensação de insegurança da população e, em consequência, para o aumento da ansiedade. As pessoas precisam ter em quem confiar para enxergar uma luz no fim do túnel”, diz a psicóloga.

Mudanças de comportamento

A ansiedade é uma sensação que todos conhecemos e, até certo nível, pode ser considerada positiva. É normal ficar ansioso diante de situações como um novo emprego ou um novo relacionamento afetivo, por exemplo.

A dimensão patológica envolve a angústia paralisante diante da impossibilidade de controlar o futuro – um temor enfatizado pela pandemia, que potencializa as sensações de impotência e de indefinição.

Ana Maria Rossi ressalta a importância de observar-se e de observar as pessoas próximas para identificar os primeiros sintomas e tentar, assim, evitar a evolução da ansiedade, o que pode exigir tratamento com remédios.

Entre os indícios relevantes estão lidar de forma paranoica com preocupações normais, além de mudanças de hábitos e de comportamento – alterações na qualidade do sono, dificuldades digestivas, impaciência e intolerância em relação a situações corriqueiras, por exemplo.

É preciso mexer o corpo

Uma forma de tentar amenizar as preocupações com o futuro é concentrar-se o máximo possível no presente. “Algo muito importante são os respiros, tanto os figurados quanto os literais”, indica a psicóloga Regina Truffa Tarabay, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas.

Práticas de meditação e atividades que dão prazer, como ouvir o estilo predileto de música, são exemplos desses respiros.

Também são fundamentais hábitos como alimentação saudável e exercícios físicos, que contribuem para a produção de substâncias que trazem bem-estar, melhoram o humor e ajudam a relaxar, a exemplo de serotonina e endorfina.

Durante o confinamento doméstico, é preciso uma boa dose de criatividade para fazer exercícios. “Pode ser dança, musculação, bicicleta ergométrica, pular corda, limpeza, brincadeira com as crianças ou com os pets. O importante é mexer o corpo todos os dias”, diz Regina.

Oportunidade de aprendizado

De certa forma, pode-se até dizer que a pandemia contribui para ajudar as pessoas a se concentrarem no presente. A covid-19 impulsionou gatilhos ligados diretamente à sobrevivência imediata – medo de contágio, isolamento, desemprego, falta de dinheiro.

Essas causas ocuparam o espaço das preocupações anteriores, mais difusas, como violência urbana, relevância profissional a longo prazo ou enfrentamento de mudanças estruturais na vida, como um divórcio.

“Isso não quer dizer que as causas anteriores de ansiedade desapareceram. Elas apenas foram encobertas pela pandemia, como se fosse uma grande onda. Quando a maré baixar, os motivos originais voltarão a ser percebidos”, diz Regina.

Nesse ponto há uma possibilidade importante de aprendizado, avalia a psicoterapeuta: quando atravessarmos o momento crítico, as pessoas podem se dar conta que as causas anteriores de ansiedade talvez não fossem assim tão graves.

Explosão de bruxismo

Os dentistas estão percebendo diretamente o aumento da ansiedade por conta da ampliação de um dos seus sintomas mais comuns: o bruxismo, excesso de atividade dos músculos de mastigação que pode causar desequilíbrios sérios nas estruturas faciais.

“Muita gente que já tinha um nível mais básico de bruxismo está percebendo o agravamento do quadro por conta da ansiedade”, diz a cirurgiã-dentista Tatiana Ambros. Esse agravamento se manifesta, muitas vezes, por fraturas em dentes saudáveis ou perdas de restaurações.

Tatiana explica que a ansiedade tem interferido na qualidade do sono e isso pode potencializar o bruxismo durante a noite. Nesse caso, não há muito a fazer além de tentar reduzir o nível de ansiedade. Já o bruxismo em vigília, que ocorre com a pessoa acordada e também tem sido agravado pela ansiedade, é um mau hábito que pode ser conscientemente combatido.

Esse tipo de bruxismo se manifesta tanto com o “travar” dos dentes (algo que temos a tendência de fazer com mais ênfase quando estamos focados numa atividade, como ler ou ver um filme) quanto por práticas como roer as unhas e mordiscar canetas. “É preciso se policiar para manter a posição correta de descanso: lábios levemente encostados e dentes desencostados”, ensina Tatiana.

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