A saída de Kassab do jogo da reforma segue a máxima de que quem chega primeiro bebe água limpa e tem mesa farta. Agora, o PSD só pegaria o “resto”.
À primeira vista, a recusa do presidente do PSD, Gilberto Kassab, em colocar sua legenda como parte do governo Dilma Rousseff nesse momento pode transmitir um quê de liberdade para a eventualidade de um projeto alternativo prosperar, leia-se, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas, na verdade, é muito mais do que isso. Com o seu gesto, Kassab segue a velha máxima de quem chega primeiro bebe água limpa e encontra a mesa farta. Quem chega por último, tem que se contentar com os restos.
A atual reforma ministerial, para o PSB, teria essa cara de “resto”. O novo partido encontrou ocupados todos os postos que poderia sonhar, caso do Ministério das Cidades, a Integração Nacional, a Agricultura, área na qual o PSD trafega muito à vontade na figura da senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional de Agricultura (CNA). Se Dilma mexesse em algum partido para abrigar os novos aliados, fatalmente teria problemas. Daí, ficou para os pessedistas a “sobra”, ou seja, o novo Ministério da Pequena e Micro Empresa. Esse ministério precisa de, pelo menos, um ano para ser organizado. Sendo assim, quando o ministro, seja quem for, tomar pé do serviço, já estará na hora sair para a campanha de 2014.
Diante dessa constatação, bem pragmática, o PSD dispensou o convite, mas deixou claro o interesse em um ingresso para a próxima temporada. “Ela está mais forte do que nunca no partido”, diz o ex-prefeito paulistano. Kassab não vê hoje nenhum adversário capaz de comprometer a reeleição da presidente Dilma Rousseff, embora considere que a campanha não será um passeio. Na visão dele, a economia caminha para uma melhora. Ainda que a recuperação seja bem menor do que o otimismo do ministro da Fazenda, Guido Mantega, será suficiente para dar à presidente o discurso de que ela segurou as rédeas da crise. E, sendo assim, o alcance dos programas sociais completará os votos rumo ao segundo mandato. Daí, o aceno de Kassab à presidente.
Enquanto isso, no futuro…
Ao anunciar desde já o apoio à presidente Dilma numa campanha pela reeleição, o PSD tenta garantir um passe para os camarotes vips do segundo mandato, leia-se ministérios de ponta. Entre quatro paredes, o PSD não descarta inclusive, quem sabe, ocupar o lugar do PSB na correlação de forças da base governista, se houver uma segunda temporada de Dilma no comando do país. Eduardo Campos, ao que tudo indica, será candidato a presidente. Logo, a presidente, se reeleita, terá mais espaço para acomodar os aliados de primeira hora.
O PSD repete o PSB ainda em outro aspecto. Em 2010, o partido de Eduardo Campos decidiu não apresentar a candidatura de Ciro Gomes contra Dilma com a justificativa de não prejudicar os candidatos a governos estaduais. Agora, é o PSD quem faz essa leitura. O fato de não ter cargos e facilitar hoje a vida de Dilma dá ao PSD mais moral para, logo ali na frente, pedir ao PT e à presidente uma parceria nos estados no ano que vem. Na Bahia, o vice-governador, Otto Alencar, é pré-candidato ao Palácio de Ondina. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, que, por sinal, participou do jantar da última quarta-feira com a presidente, também deve concorrer à reeleição.
Além de todos esses aspectos, o PSD, ao não entrar agora no governo, consegue ainda manter intacta a imagem de independência em relação ao governo federal. E, de mais a mais, na política assim como na vida nada é definitivo. Se algo desandar até 2014, o PSD sempre poderá mudar os rumos sem ficar com aquela pecha de que largou o governo em busca do novo. No momento, entretanto, o PSD não acredita muito no sucesso de Eduardo Campos para 2014 e, como não deseja seguir com o PSDB, joga suas fichas no futuro governo Dilma.
O fato de não querer se aliar a Eduardo Campos, entretanto, não representa um rompimento do PSD com o PSB. O partido de Kassab apenas considera que não haverá amplitude da base socialista para o ano que vem. Seus aliados acreditam que nem mesmo o PDT, hoje com setores para lá de empolgados com o governador pernambucano, dá sinais de que abandonará o barco de Dilma. Em 2018, pode até ser. Mas, agora, avalia o PSD, não é hora. Por enquanto, o PSD ficará mesmo de pé, atrás da mesa de jogo, observando como Dilma movimenta as cartas que tem na mão e só vai se sentar à mesa na hora de fechar 2014, quando seu passe estará mais valorizado. Agora, o cacife seria baratinho.
Fonte: Blog da Denise Rothenburg