Na política, assim como nas relações amorosas, a arte da sedução exige sutileza.
Não se conquista alguém aos brados, anunciando abertamente seus objetivos, abusando da insistência, articulando argumentos e afirmando suas qualidades e virtudes em contraste com os defeitos dos concorrentes. Mas tudo isso é feito numa campanha eleitoral. Atenção: o que se busca, com tais ações, é só o voto e não o comprometimento emocional, a adesão afetiva. Portanto, a sedução aplicada à política constitui-se numa forma de buscar o voto – ou o apoio – diferente dos estímulos usuais da propaganda eleitoral: mais indireta que direta, mais emocional que racional, mais sugestiva que propositiva.
A sedução é indireta, leve, envolvente, gratificante e induz ao prazer e ao desarmamento das defesas pessoais. Ela nunca parece ser o que é: conquista sem parecer estar conquistando, “vende uma imagem” sem parecer estar vendendo, convence sem parecer esforçar-se para convencer. A sedução funciona melhor nas relações “face a face” e com pequenos grupos, mas também pode ser exercida em grande escala, entre o político e o público. Não é qualquer líder, entretanto, que consegue envolver o público. É preciso que haja uma disposição prévia e favorável por parte da população e que o líder possua ou pareça possuir os atributos desejados a um sedutor. Também é preciso seguir algumas regras:
Sua aparição deve se transformar em notícia
1. Apareça como uma novidade, nunca como mera publicidade
Evite surgir para o público num contexto publicitário. Antes, faça que sua aparição seja notícia. As pessoas dão maior atenção e se interessam mais por notícias do que por publicidade. Frente a uma notícia, também estão psicologicamente desarmadas e predispostas a aceitar seu conteúdo como verdadeiro. Revele-se a propósito de algum assunto que chame a atenção da mídia, para que ela, voluntariamente, paute o assunto para cobertura. Faça uma detalhada orquestração do evento e do local, de tal forma que o “roteiro” tenha algum conteúdo emocional. Esconda sua intenção real e comporte-se como “parte do evento”.
2. Priorize a forma, não o conteúdo
Prepare o cenário de sua aparição como um espetáculo para os olhos. A imagem sempre será mais forte do que as palavras. Ilustre a maior parte de sua mensagem com estímulos visuais persuasivos e sutis.
Cores, fotos, bandeiras, vídeos, cartazes e banners devem compor um ambiente agradável e estimulante. Deixe que as pessoas mergulhem o olhar em tais elementos enquanto você fala. Suas palavras, como é óbvio, devem estar integradas ao ambiente criado, mas devem ser incidentais a ele.
Sua linguagem deve ser sugestiva, quase hipnótica, e precisa buscar sintonia emocional, mais que persuasão racional. As pessoas vão compor a mensagem, misturando frases que você disse com o sentimento provocado pelos visuais.
3. Privilegie o aspecto emocional
A força da sedução está no fato de ela lidar com os sentimentos
A sedução acontece porque maneja emoções e sentimentos. A racionalidade pode até ajudar, mas nunca estará em primeiro plano. Não promova sua mensagem pela argumentação razoável. Se agir assim, você vai dividir o público e quebrar o “clima”. Busque, ao contrário, uma emoção básica, algo que todos possam compartilhar. Patriotismo, solidariedade, valores familiares, orgulhos regionais, exemplos históricos de grandeza e heroísmo são temas que podem provocar uma unanimidade afetiva, sobre a qual você vai, cuidadosamente, justapor sua mensagem. Com tais temas você pode mobilizar o afeto das pessoas, deixá-las emocionalmente sensíveis, atentas ao seu discurso e dispostas a aceitar o que você diz.
Sua mensagem deve estar inserida de maneira natural e aceitável no desenvolvimento do “tema”. Para tanto, você deve, mais que articulá-la racionalmente, sugeri-la, insinuá-la. Sua presença também deve carregar símbolos adequados ao tema, sem exageros que a tornem caricata.
4. Fale a linguagem de sua audiência
Evite de todas as formas parecer superior às pessoas com as quais vai falar. Evite palavras complicadas, dados e estatísticas enfadonhas e raciocínios complexos. Ainda que os eleitores o reconheçam como uma autoridade, prove que você é capaz de sentir como eles, é um deles e compartilha medos, projetos e esperanças.
Faça-os acreditar em você, confiar em você. A linguagem, se usada com naturalidade, é um poderoso recurso de aproximação e identidade. Se você fala e sente como eles, usa, inclusive, as expressões que somente os “locais” usam, você então pode ser visto como um deles.
Sua mensagem, falada “nessa língua”, tende a ser acolhida sem maiores reservas e defesas. E apresentada sob as formas de sugestão e insinuações, pode ser internalizada pelo público como se fosse o raciocínio deles. Este é o objetivo.
Fonte: Política para Políticos