Trabalhando numa campanha para a eleição suplementar do dia 03 de março, mais uma vez pude confirmar que, no conceito popular, o candidato ter “ficha limpa” é absolutamente relativizado.
No confronto particular, com aspectos de fácil conhecimento, vale mais o “fazedor de obras”. E, no geral, prevalece o entendimento capcioso de que “político é tudo igual”, em pegajosa mistura com a “Lei de Gerson”, aquela que prega “tirar vantagem em tudo”.
Importante: não captei essa realidade em grotões subdesenvolvidos, não. Ocorreu agora em Criciúma, cidade industrial no evoluído estado de Santa Catarina. E já tinha presenciado situação semelhante em Paulínia, próspera cidade na desenvolvida região de Campinas-SP, na eleição de outubro passado.
As pesquisas qualitativas pareciam cópias umas das outras, ao relatarem afirmações qualificando os ex-prefeitos, já condenados pela Justiça e, por isso, enquadrados na Lei da Ficha Limpa:
– “a gente sabe que ele roubou, mas pelo menos ele fez”;
– “ele é simpático, ajuda a gente”;
– “todo político usa o cargo, quem reclama é porque não está lá”.
Nas duas cidades a propaganda veiculada por vários anos, às custas do erário público, ajudou a construir uma imagem de administradores competentes. No momento eleitoral a mentira se consolidou, se ampliou e a simples apresentação de uma alternativa diferente era vista como uma agressão oportunista. A comunicação eleitoral deles também se assemelhava, promovendo um desfilar de obras, para uma população anestesiada: dane-se o brutal endividamento provocado pelos superfaturamentos; danem-se as condenações judiciais que promoveram o enquadramento dos ex-prefeitos na nova Lei.
Mesmo enfrentando candidatos “ficha limpa” e de comprovada capacidade administrativa, em Criciúma-SC o “ficha suja” emplacou seu Vice; em Paulínia-SP o filho foi o beneficiário, apesar de feito candidato em manobra suspeita, na noite anterior à eleição, episódio que ainda está sob judice.
É triste, mas é verdade: perante tamanho grau de despolitização das pessoas, a lei sozinha ainda não produz os efeitos que dela se espera. O rigor na aplicação talvez seja um dos caminhos mais eficazes para mudar esse quadro. Demora um pouco, mas chegaremos lá. Afinal, tem sido sempre assim com as leis que trazem conquistas sociais para este país de pessoas tão crédulas, tão incapazes de perceberem a força transformadora que seu próprio voto pode ter.
*Chico Santa Rita é consultor em marketing político desde 1976. Coordenou as campanhas do Presidencialismo e do “Não” no Referendo sobre a venda de armas – www.chicosantarita.com.br.
Artigo publicado originalmente no Diário Catarinense de 29 de março de 2013.
Fonte: Blog do Chico Santa Rita