A exumação do corpo de João Goulart, por decisão da Comissão Nacional da Verdade e do Ministério Público Federal, pode esclarecer uma dúvida histórica sobre as circunstâncias da morte do ex-presidente. A exumação busca esclarecer se Jango teria sido envenenado ou se teria sido vítima de um ataque cardíaco, em 1976, durante exílio na Argentina.
Preso no Rio Grande do Sul, em 2003, por crimes comuns, e atualmente em regime semiaberto, o ex-agentes erviço secreto uruguaio Mário Barreiro sustentou que o ex-presidente teria sido envenenado por comprimidos misturados aos remédios controlados que tomava para os problemas do coração e que ele próprio, Barreiro, teria participado da operação, encarregado que era de fazer a escuta telefônica de Jango.
A confissão tinha como testemunha um assistente incomum, o próprio filho mais velho de Jango, João Vicente, que acompanhava a produção. Sem rodeios, Barreiro disse a Vicente que ele devia querer a sua morte, “porque eu ajudei a matar seu pai”. Vicente retrucou não ter nada contra ele e disse que queria apenas a verdade.
Deposto pelo golpe militar de 1964, Jango tinha medo de que algo pudesse lhe acontecer. Em carta enviada aos filhos que moravam em Londres, revelada no documentário, o ex-presidente conta que temia por sua vida, uma vez que seus amigos mais próximos estavam morrendo na Argentina. Jango tinha planos de se mudar para Paris.
O documentário ganhou repercussão nacional e chegou a ser exibido em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado, com a participação de embaixadores dos países vizinhos.
João Goulart morreu no dia 6 dezembro de 1976, na cidade de Mercedes, na Argentina e foi sepultado na cidade gaúcha de São Borja, onde nasceu. A exumação do corpo ainda não tem data para ser realizada e deverá ocorrer nos próximos três meses, com o acompanhamento de peritos argentinos e uruguaios.
O filme Jango em 3 Atos, produzido pela TV Senado, foi o grande vencedor do Prêmio Direitos Humanos de Jornalismo, em 2009, na categoria documentário. O prêmio é oferecido pelo Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) e pela Ordem dos Advogados do Brasil, seccional do Rio Grande do Sul, e tem o apoio da Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Brasil.
Fonte: Correio Braziliense