Laudo aponta que bebê estava morto quando grávida foi liberada no DF

Gestante abortou 30 min após ser dispensada por médica da rede pública. Avó voltou com feto no colo; polícia e Saúde apuram se houve negligência.

Laudo preliminar da necropsia feita no feto da mulher que abortou 30 minutos após ser liberada de um hospital público no Distrito Federal apontou que a criança estava morta havia pelo menos 24 horas. A Polícia Civil investiga se houve negligência médica no atendimento à grávida, de 20 anos, que deu entrada na regional de Ceilândia relatando dores. A Secretaria de Saúde informou que apura rigorosamente o ocorrido e que considera o serviço prestado adequado – mesmo com a profissional não identificando o possível aborto.

Um vídeo que circula em redes sociais mostra a mãe da gestante, Edna Maria Farias de Brito, retornando ao hospital por volta de 3h com o feto nos braços. A mulher passa mais de um minuto na recepção da unidade de saúde e nenhum funcionário a recebe. Ela chora, pede ajuda e reclama que havia acabado de sair com a filha de lá. De acordo com a secretaria, o segurança na cadeira de rodas prestou socorro à jovem.

Ao G1, Edna criticou o atendimento dado à filha, que tinha cerca de cinco meses de gestação. “Ela estava sentindo muita dor. Não fizeram exame nenhum, nenhum, nem ecografia, nem nada, nem toque. A médica só perguntou onde era a dor. O atendimento todo durou 15 minutos.”

A reportagem não conseguiu contato com a profissional. A Secretaria de Saúde disse que a jovem não retornou ao consultório médico após ser medicada. “[Ela] Não apresentava sangramento, nem sintomas de trabalho de parto ou abortamento. Diante do quadro apresentado, ela recebeu o atendimento necessário naquele momento.”

“Quando minha filha chegou em casa, reclamou de dores e falou: ‘mãe, minha vagina está esquentando, tem um negócio saindo’. Botei ela em pé para entrar no carro e voltarmos ao hospital. O bebê caiu de dentro dela, quebrou o braço, bateu a cabeça. Não teve nem como salvar, já estava morto”, disse Edna, emocionada.

A família, que é de Águas Lindas (GO), voltou ao Hospital Regional de Ceilândia. Enquanto a filha era internada, Edna conta que tentou contato com a médica que atendeu a jovem inicialmente. O tempo de deslocamento entre a casa delas e a unidade é de 20 minutos.

“Voltei para perguntar à médica o motivo de ela não atender minha filha direito, o porquê de ter mandado minha filha para casa”, explica. “Eu me sinto humilhada. A médica já começou mentindo, ela ligou para a 15ª DP [delegacia da região] para dar a versão dela, dizendo que minha filha entrou com sinal de agressão, sendo que não existe, que não foi por isso, ela quis justificar que meu neto nasceu morto por causa de uma agressão que não existiu.”

O feto foi levado para o Instituto Médico Legal. A polícia nega ter recebido telefonema da médica. A direção do Hospital Regional de Ceilândia informou que havia três ginecologistas trabalhando no plantão noturno. No período foram registradas duas cesarianas e 11 partos normais, além dos atendimentos às outras pacientes.

A empresária Anna Karolina Souza dos Santos conta que se sensibilizou ao ver a avó com o feto nos braços. Ela acompanhava a mãe, grávida de nove meses, que também foi atendida pela médica.

“Minha mãe chegou lá às 22h [de sábado], foi atendida, passaram um exame de urina para saber se a bolsa estava rompendo. A pressão dela estava muito alta, ela já teve pré-eclâmpsia. Com tudo isso que aconteceu, quando a avó voltou com o bebê, só desligaram as luzes da recepção e não atenderam mais ninguém. A médica foi embora. Minha mãe foi embora às 6h, oito horas depois, sem ter resultado do exame”, diz.

A secretaria disse que as luzes desligadas eram da sala de acolhimento e que o fato ocorreu no intervalo. Anna Karolina também criticou o atendimento dado por outros funcionários da unidade e disse ver negligência médica. “Minha mãe está com medo de voltar ao hospital, está desesperada e já está sentindo contração.”

Exames
De acordo com Edna Maria, a gravidez foi descoberta tardiamente. A filha dela ainda não tinha dado início ao pré-natal e faria na próxima semana uma ecografia para verificar o tempo exato de gestação.

“A médica falou que não podia examiná-la porque ela não tinha pré-natal, mas eu falei que esse era mais que motivo para fazer exame”, lembra. “Hoje foi meu neto que morreu, mas amanhã vai ser outro. Queria que eles [hospital] pagassem por tudo o que fizeram.

Fonte: G1

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here