O político convencional quer do eleitor apenas o voto, enquanto que o candidato pregador quer a sua conversão.
É na figura do candidato pregador que aparece, com maior visibilidade a confusão entre a política e a religião. Ao contrário do político convencional, que quer do eleitor apenas o voto, sem se interessar nos motivos, o candidato pregador está interessado, em primeiro lugar, em mudar o pensamento do eleitor, transmitir-lhe “a verdade”, torná-lo “consciente”, e, como conseqüência dessa “conversão”, o seu voto.
O candidato pregador não quer só o voto, ele quer a conversão
Em outras palavras: o político convencional quer do eleitor apenas o voto, enquanto que o candidato pregador quer a sua “conversão”.
Essa “conversão” não necessita ser, nem comumente é de natureza religiosa. O mais das vezes, na política, ela assume ou uma dimensão ideológica, ou moralista.
A mensagem do candidato pregador é sempre um Credo, isto é, um conjunto de princípios aos quais o eleitor deve aderir, repudiando aqueles que possuía e que entram em contradição com os novos.
Este Credo pode ser uma teoria política rígida e logicamente articulada, como pode ser uma teoria feita de uma peculiar combinação de elementos factuais, com normas e valores, estereótipos, preconceitos, interpretação histórica, informações imprecisas, tudo amarrado numa idéia força que, a um só tempo, condena o status quo e promove as virtudes de sua utopia.
Este tipo de mentalidade, que dá origem tanto ao candidato como aos seus seguidores, tem assumido, ao longo da história, em diferentes países, as mais variadas formas como:
“O salvacionismo”;
Os surtos “moralizantes” na política, como o “progressivismo” nos EUA;
Movimentos políticos como o “nazismo”, o “fascismo”, o “stalinismo”;
Movimentos políticos-religiosos-nacionalistas do tipo dos fundamentalismos islâmicos;
Movimentos políticos monotemáticos, que resumem sua mensagem a apenas um projeto que supostamente teria o poder de resolver todos os demais.
O que há em comum entre esses movimentos é:
Tendência ao fanatismo;
Divisão do mundo político entre “nós e eles”;
Preferência pela ação direta sobre a institucional;
Submissão a uma rígida ortodoxia;
Ação baseada em princípios/rejeição à transação;
Prioridade da mensagem sobre a candidatura;
Variados graus de desajuste com a realidade;
Forte envolvimento emocional com o movimento, sua mensagem, sua história e suas lideranças;
Submissão voluntária a uma rígida disciplina;
Rejeição ao enfoque “processual” da política;
Baixíssima disposição para aceitar compromissos, acordos, negociações.
A figura do “pregador” colide, pois, frontalmente, com as disposições do eleitorado, e com o comportamento dos demais candidatos.
Por essas razões, salvo situações de crise aguda, quando os mecanismos institucionais do sistema político entram em paralisia e não mais conseguem reter sua autoridade e um mínimo de eficiência para governar, a política da pregação não tem sucesso eleitoral.
Em condições de normalidade social, a enorme maioria dos eleitores, não está interessada em rever seus códigos de valores e dispor-se a converter-se a um credo político que pretenda mudar sua maneira de viver e de perceber o mundo.
Mais ainda, que lhe impõe sacrifícios e pouco ou nada lhe oferece de vantagens tangíveis. De fato, apenas o convoca para ser um dos “eleitos” em um mundo futuro e remoto.
O senso de realismo do eleitor comum tende a rejeitar essa visão como alternativa política. De outra parte, o político convencional relaciona-se com o eleitor de maneira inversa.
Ao invés de pretender convencê-lo para aderir à sua crença, procura saber com o máximo de precisão, o que o eleitor está precisando, desejando, reivindicando, para delas fazer a sua plataforma de campanha. Ao invés de converter o eleitor, o político convencional se faz convencer pelo eleitor do que ele deseja, e é isso que ele oferece como seu projeto eleitoral.
O pregador encara a eleição como uma oportunidade excepcional para fazer sua pregação. Vencer a eleição é uma meta secundária.
O candidato pregador oferece como estímulo ao eleitor um paraíso futuro. O candidato convencional oferece uma vantagem, um alívio, um apoio, para o eleitor real e sua família. É menos que o paraíso, mas é bem mais realista, atende alguma necessidade muito sentida, se realiza no curto prazo e não num futuro remoto, longínquo e pouco provável.
Para o candidato pregador, o que é importante para ele e para seus companheiros de “seita”, tem que ser importante também para o eleitor comum. Se não for, é porque a eles falta consciência; é porque têm sido enganado pelos outros. Cabe-lhe então, como pregador, levar a luz para ele, educá-lo, torná-lo consciente. O que se faz pela pregação. Para o candidato comum é o inverso. O que é importante para o eleitor deve tornar-se importante para ele.
Por fim, o pregador encara a eleição como uma oportunidade excepcional para fazer sua pregação. Vencer a eleição é uma meta secundária. A principal é fazer convertidos. Já para o candidato convencional, o que importa é vencer a eleição. Se o eleitor tiver valores diferentes do seu, e assim mesmo votar nele, vale tanto quanto um que tenha os mesmos valores que ele.
O candidato pregador, portanto, é um candidato vocacionado para a derrota eleitoral, com a exceção antes referida, de que se a sociedade estiver passando por uma crise de graves proporções, abre-se o espaço para rediscutir tudo sobre o sistema político, e aí o pregador adquire força e importância.
Nessas situações, as pessoas, desiludidas com a realidade passam a buscar uma outra interpretação dela, que explique porque se chegou à crise, e como sair dela. É neste espaço que o pregador pode ganhar eficiência política, conquistar adeptos, e chegar ao poder, por eleição, por um golpe de estado, ou por uma revolução.
Fonte: Política para Políticos